Estava acompanhando o programa “Que história é essa, Porchat?”, e ouvi a experiência de do ator Miguel Rômulo em pós-operatório de fissura anal. É impossível não se solidarizar com o sofrimento que ele relatou.
Bom, mas isso me levou a uma reflexão: será que o pós-operatório da cirurgia anal dói sempre? Não evoluímos nada para a recuperação desses pacientes?
Claro que sim! Então, vamos explicar ao longo do texto.
A dor no pós-operatório de cirurgia anal
Tem jeito de sofrer menos em operações anorretais, como as de:
Mas, para isso, a pessoa tem que encontrar o médico certo. Cada médico tem sua própria formação, convicções e experiências, e muito do que vou falar aqui não será aceito por outros profissionais.
Coloproctologistas têm visões diferentes
Ainda há muitos colegas coloproctologistas que focam no resultado final e não consideram a dor como sendo um fator determinante na obtenção de sucesso. Bem, nisso eu discordo completamente, pois faço tudo que posso para diminuir o sofrimento daqueles que operam comigo e tento ir me aprimorando cada vez mais em cursos e discussões com outros colegas.
O que há de novo no pós-operatório de cirurgia anal?
Em textos anteriores aqui no blog, já falamos sobre:
Uso de analgésicos
Orientações sobre como evacuar bem
Indicação de banhos de assento quentes ou com gelo
Hoje, quero focar em outros métodos que fomos adicionando em nossa prática para ajudar pacientes no pós-operatório de cirurgias anorretais.
Bloqueio anestésico pós-operatório
A realização de uma infiltração de anestésico na região dos nervos perto do ânus pode adicionar analgesia significativa por até três dias iniciais de recuperação.
Esse período é crítico para o paciente, pois se a primeira evacuação não dói, o medo diminui e faz com que o processo de recuperação se dê de maneira menos traumática.
Cirurgia minimamente invasiva
Já pudemos discutir em outras oportunidades as técnicas minimamente invasivas no tratamento das doenças orificiais e seu impacto na recuperação do paciente.
Sempre que a abordagem é menos agressiva para os tecidos e estruturas a serem tratadas, a recuperação tende a ser mais rápida e menos sofrida, como exemplos disso temos a cirurgia com uso de plataforma a laser, uso de cirurgia por vídeo.
Toxina botulínica (botox™) e pomadas relaxantes
Na própria experiência contada pelo ator Miguel Rômulo, um dos pontos mais importantes relatos por ele é que o músculo anal estava contraído demais e que isso prejudicou muito a sua capacidade de evacuar e, consequentemente, piorou muito a dor.

Esse fato é muito comum nos pós-operatórios de cirurgias anorretais. Ou seja, a dor faz com que a musculatura contraia demais e dificulta a passagem das fezes. A prisão de ventre faz com que o bolo fecal fique mais rígido e mais difícil de sair, o que causa dor e piora a contratura local e isto acaba por virar um círculo vicioso.
Para interromper esse processo, o médico pode receitar analgésicos, anti-inflamatórios e as medicações relaxantes como as pomadas manipuladas de aplicação local ou injetável como a toxina botulínica. O relaxamento facilita a evacuação, diminui a dor e acelera a recuperação.
Antibióticos de uso local
Esses medicamentos ajudam a diminuir a população bacteriana local e podem auxiliar indiretamente no controle de dor. Em tese de mestrado publicada por uma colega coloproctologista mineira, foram encontrados sinais benéficos de adição de antibióticos de aplicação tópica (local) como auxiliares no controle álgico.
Laser de baixa potência
Aplicação de laser de baixa potência tem efeito cicatrizante e analgésico na recuperação pós-operatória dos pacientes. A aplicação é indolor e dura pouco mais de dois minutos, são utilizados dois tipos de laser:
Vermelho: auxilia na cicatrização
Infravermelho: atua de maneira analgésica
São programadas três a quatro sessões na primeira semana de recuperação, e temos observado ótimos resultados.
Cirurgia anal não precisa ser tão sofrida
Bem, então acredito que está respondida a pergunta do início do texto. Sim, é possível que o pós-operatório da cirurgia anal não seja tão sofrido.
É preciso entender que dor é algo subjetivo e cada pessoa tem uma experiência individual nos pós-operatórios das cirurgias anais, mas cabe ao médico analisar cada caso e direcionar o tratamento de maneira a minimizar o tempo e intensidade da dor e potencializar a cicatrização.
Vale lembrar, ainda, que tudo isso tem um custo, e a maioria das soluções apresentadas acima não é coberta pelas operadoras de saúde. Isso infelizmente pode limitar a acessibilidade dessas opções em um país tão desigual como o nosso.
De toda forma, o médico sempre pode ajudar o paciente a passar por essa experiência de maneira mais amena.
Tudo de bom, pessoal! Até semana que vem!
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