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Endometriose no intestino deve ser avaliada por um coloproctologista


Endometriose no intestino pode provocar dores às mulheres

A endometriose no intestino é um quadro que requer um acompanhamento tanto do ginecologista quanto do coloproctologista. Para compreender essa necessidade, é essencial entender melhor sobre essa condição, não é mesmo?

A endometriose é uma doença inflamatória crônica, com relação hormonal – especialmente o estrogênio – e que afeta aproximadamente 10% das mulheres em idade reprodutiva. Cerca de 50% das pacientes apresentam dor pélvica e infertilidade.

Ela é caracterizada pela presença de tecido endometrial fora da cavidade uterina e que pode se instalar em órgãos do sistema genital (ovários, parede uterina, parede vaginal, trompas e ligamentos) e locais adjacentes a eles, como peritônio.

Além disso, a doença pode ocorrer em estruturas extragenitais. Nestes casos, a região mais comum de ser acometida é o intestino. Segundo estimativas e estudos, a endometriose no intestino pode ser encontrada em até 37% das pacientes.

Características da endometriose

As lesões de endometriose nem sempre são iguais, isto é, elas podem ser encontradas como nódulos aderidos aos órgãos – e que podem infiltrar e retrair a anatomia normal da estrutura –, além de placas superficiais.

Ao longo do curso da doença, o estímulo hormonal comum ao ciclo menstrual, mas desordenado nesse caso, cria um processo inflamatório. Isso faz com que as estruturas próximas ao endométrio, ou seja, a parede uterina, fique irritadas. Então, após a diminuição do estrogênio, essas lesões cicatrizam e tornam-se áreas de aderências.

Endometriose não é câncer

A endometriose é uma afecção benigna, mas às vezes se comporta como um câncer. O ciclo mensal de variação hormonal nas mulheres em idade fértil faz com que as aderências aumentem e que os órgãos fiquem unidos entre si.

Em outras palavras, temos, assim, um processo chamado de pelve congelada, uma vez que intestino, ovários e útero formam uma massa única. A principal manifestação de sintomas – dor – é gerada por esse fenômeno, juntamente com a irritação dos nervos da pelve.

Endometriose no intestino

Os pacientes com endometriose no intestino, ou melhor, que afeta as estruturas extragenitais, apresentam o quadro de endometriose infiltrativa profunda. Geralmente, a região mais afetada nesses casos é o sigmoide (parte do intestino), o fundo da pelve, útero e ovários. Todavia, focos podem ser encontrados em toda extensão do cólon (intestino grosso).

Sinais da endometriose no intestino

Os sintomas da doença no intestino variam, mas os principais motivos que levam as pacientes ao médico são dor pélvica e infertilidade.

A dor pode ser explicada por várias causas, como fibrose (cicatrização), aderências, acometimento nervoso e processo inflamatório. O incômodo pode ser de leve a acentuado, e normalmente ocorre na proximidade do período menstrual.

Entretanto, em algumas pacientes, a dor pode acontecer de maneira constante, além de piorar também durante a relação sexual.

Como tratar endometriose

O tratamento da mulher com endometriose deve ter uma abordagem multidisciplinar, envolvendo as especialidades relacionadas às regiões acometidas. Em outras palavras, médicos de áreas diferentes podem acompanhar o caso.

Geralmente, a paciente começa a ser assistida pelo ginecologista. O médico faz exames clínicos, bem como exames de ultrassonografia e, em alguns casos, ressonância magnética. Então, quando são observados sinais de endometriose no intestino, o coloproctologista deve ser consultado.

Coloproctologista tratando endometriose

É importante ressaltar que existem profissionais dentro da coloproctologia que se dedicam ao estudo da endometriose e, portanto, estão preparados para trabalhar em conjunto com a equipe de ginecologia. Isso leva a um tratamento mais efetivo e com menos risco e efeitos colaterais para as pacientes.

De toda forma, o tratamento deve ser individualizado. Nem todos os casos de endometriose precisam de cirurgia e, em muitos deles, somente o uso de contraceptivos progestagênicos (de progesterona) e bloqueios hormonais são suficientes para o controle dos sintomas.

Indicação de cirurgia para endometriose

A cirurgia para tratar endometriose costuma vai ser indicada em três condições:

  • Dor que não responde ao tratamento clínico;

  • Infertilidade;

  • Risco de complicações.

Cirurgia para alívio da dor

Algumas pacientes com endometriose não respondem ao tratamento hormonal e ficam dependentes de analgesia, ou seja, medicamentos para alívio da dor. Mesmo assim, a qualidade de vida delas fica muito prejudicada.

Assim, o tratamento cirúrgico permite a liberação das estruturas unidas por aderências, inflamações e nódulos infiltrativos. A maioria das pacientes operadas tem uma melhora significativa das dores, mas é importante reforçar que o tratamento para endometriose não termina com a cirurgia. Em outras palavras, se não for feito tratamento subsequente e controle periódico, a doença pode voltar, assim como os sintomas.

Infertilidade

O procedimento cirúrgico para remoção das lesões infiltrativas da endometriose aumenta a chance de a mulher engravidar. Isso porque a liberação das estruturas pélvicas ajuda ao retorno da posição anatômica original, facilitando a gravidez espontânea e até em casos de coleta de óvulos para a fertilização in vitro.

Mas todas as pacientes devem ser orientadas de que o resultado não é garantido e que todo procedimento cirúrgico apresenta riscos.

Complicações da endometriose no intestino

A invasão de órgãos, como no caso da endometriose no intestino, pode gerar complicações. Os nódulos penetram na parede intestinal, de fora para dentro e, assim, provoca uma deformação.

Essa alteração anatômica pode gerar angulações agudas que podem resultar até na obstrução do fluxo de fezes (obstrução intestinal). Além disso, sangramentos também podem ocorrer quando ocorre ruptura da mucosa intestinal devido à invasão da endometriose.

Cirurgia para endometriose no intestino

A cirurgia consiste na liberação delicada das estruturas pélvicas, de modo minimamente invasivo (laparoscópica ou robótica) e, posteriormente, é feita a remoção ou cauterização dos focos da endometriose.

Esses procedimentos são demorados e envolvem a dissecção de estruturas nobres, como nervos, ureteres, ovários, trompas e intestino. Por isso, é importante uma equipe multidisciplinar, entrosada e que foque na preservação dos órgãos, e não em grandes ressecções radicais.

Diferenças no procedimento cirúrgico

Quando a endometriose acomete superficialmente a parede do intestino, ela pode ser removida delicadamente por “raspagem” (ou “shaving”). Por outro lado, se o intestino estiver acometido profundamente, mas em uma curta extensão, existe a opção de ressecção apenas do nódulo, ou seja, de um “disco” da parede e, depois, fazemos a emenda.

Ilustração do Dr Bruno Giusti Werneck mostra técnicas para cirurgia de endometriose no intestino

Já nos casos em que a parede é invadida em maiores extensões, ou com lesões multifocais muito próximas, um segmento do intestino pode ter que ser removido e depois será realizada uma anastomose (emenda).

Uma pergunta frequente sobre cirurgias que envolvem o intestino é se existe necessidade de colostomia (exteriorização do intestino para desviar o trânsito e proteger a área emendada). Na grande maioria dos casos, a ostomia não é necessária, isto é, somente em casos específicos de dificuldades técnicas (para proteção da própria paciente) ou complicações pós-operatórias.

Então, nos raros casos em que são necessárias, as ostomias serão temporárias, e o trânsito intestinal será reconstituído em período entre um e três meses.

Uma paciente bem orientada sobre o seu problema enfrenta melhor qualquer situação. Fique atenta!

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