Proctopatia por radiação (retite actínica): Efeito colateral da radioterapia de pelve
- Dr. Bruno Giusti Werneck
- 2 de dez.
- 3 min de leitura
A proctopatia por radiação é um efeito colateral desencadeado pela radioterapia de cânceres pélvicos, como o câncer de reto e de cólon. Antigamente, esse problema era chamado de retite actínica, sendo um processo inflamatório do reto (retite) que perdura por anos, mesmo após o fim do tratamento com radiação.
Nas décadas de 1980 e 1990, a proctopatia por radiação era frequente, atingindo até 30% dos pacientes. Devido à melhora da tecnologia envolvida no tratamento do câncer de intestino e ao maior conhecimento da origem desse problema, hoje em dia, a incidência caiu significativamente para cerca de 1,5% dos casos.
A radioterapia é uma modalidade de tratamento para várias doenças oncológicas, inclusive as lesões que acometem a pelve, como os tumores de colo de útero, próstata, reto e canal anal.
Ela pode ser realizada de forma isolada ou em combinação com quimioterapia, tanto no tratamento pré-operatório quanto no pós-operatório. A decisão sobre aplicação da radioterapia depende de fatores como:
Tipo de câncer
Estágio do tumor
Condição clínica do paciente
Características da proctopatia por radiação
Quando o paciente submetido à radioterapia apresenta proctopatia por radiação, é importante compreender algumas características do quadro, como veremos a seguir.
Proctopatia por radiação aguda
Quando o quadro de proctopatia por radiação é agudo, ele tem início rápido e transitório. Esse problema pode acometer de 50% a 100% dos pacientes e apresenta sintomas como:
Diarreia
Dor
Urgência evacuatória (vontade incontrolável de ir ao banheiro)
A diferenciação entre os dois tipos de proctopatia por radiação é muito importante, pois, apesar de mais frequente, a forma aguda regride em algumas semanas após o término da radioterapia e é mais facilmente tratada com medicamentos.
Proctopatia por radiação crônica
Quando o quadro de proctopatia por radiação é crônico, ele se inicia mais de três meses após o tratamento. Esse tipo é menos comum (entre 2% e 20% dos pacientes) e os sintomas mais comuns são:
Sangramento
Mucorreia (saída de catarro nas fezes
A forma crônica pode perdurar por muitos anos, às vezes durante toda a vida do paciente, com impactos significativos na qualidade de vida.
Diagnóstico da proctopatia por radiação
Para saber se houve o desenvolvimento da proctopatia por radiação, o diagnóstico deve ser feito por médico especialista, como o coloproctologista, a partir de:
Obtenção da história clínica detalhada da doença e do tratamento
Exame físico e coloproctológico
Na imagem abaixo, podemos observar as alterações típicas da proctopatia por radiação crônica, observadas durante uma colonoscopia. Esse quadro revela teleangectasias, casos aberrantes, formados de maneira desorganizada, algumas vezes com sangramento ativo.
No caso de lesão aguda, observamos mais frequentemente afinamento da mucosa, com sinais de inflamação microscópica nos resultados das biópsias.

Tratamento da proctopatia por radiação
A partir do diagnóstico, o tratamento para proctopatia por radiação será indicado de acordo com a gravidade dos sintomas. Na maioria dos casos, a abordagem irá focar no sangramento, que é a queixa mais comum.
Em casos mais leves, uma medida inicial pode ser a aplicação de agentes tópicos como a formalina e enemas de sucralfato, além de antibióticos orais com enemas de água ou corticoides.
Já os tratamentos endoscópicos costumam ter altas taxas de sucesso e benefício por períodos longos. As modalidades disponíveis são:
Plasma de argônio (padrão-ouro)
Cauterização mono e bipolar
Laser

Sangramento retal é uma característica da proctopatia por radiação
As figuras abaixo exemplificam o tratamento por cauterização monopolar em seus passos pós-tratamento imediato e tardio.

Além disso, a utilização de medicina hiperbárica (técnica em que o paciente respira oxigênio puro em uma câmara pressurizada) também pode ajudar como tratamento combinado ou terapia isolada, mas devem ser considerados os custos e disponibilidade do método.
Por fim, nos casos que não respondem aos tratamentos acima e a doença continua causando grave prejuízo para o paciente, a cirurgia é indicada. Isso pode envolver a confecção de colostomia para desvio do trânsito de fezes e, assim, diminuir os sintomas.
Por outro lado, a cirurgia de ressecção da área afetada com remoção de parte ou a totalidade do reto é bastante agressiva e deve ser evitada.
Prevenção é chave contra proctopatia por radiação
Como toda doença relacionada ao tratamento de um problema, isto é, aos métodos terapêuticos, a melhor forma de abordar a proctopatia por radiação é a prevenção. As medidas a seguir podem auxiliar na mitigação da evolução do quadro:
Aparelhagem moderna de radioterapia
Posicionamento cuidadoso do paciente
Utilização de radioprotetores
Abraço e até semana que vem!








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