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Por que o paciente deve saber do próprio diagnóstico?

É um eterno desafio da humanidade médica: até que ponto o médico deve informar o paciente do próprio diagnóstico? Até que ponto saber sobre a doença é benéfico? Como não passar do ponto?


O texto de hoje é uma reflexão sobre a importância da participação dos próprios pacientes no processo de acompanhamento de sua saúde e doença, desde a primeira consulta, até o fim do seu tratamento.


Minha experiência pessoal

A primeira lembrança médica que tenho é a do diagnóstico de câncer do meu avô. Eu tinha 12 anos, e minha família me disse: “seu avô está com um tumor maligno, mas ele não pode saber, não conte nada”.


Aquilo me marcou tanto que até hoje sinto por não ter podido falar abertamente sobre aquilo, com uma das pessoas mais queridas que eu tive na vida. Foi uma quebra de confiança muito difícil de superar.


Minha experiência profissional

Mais de trinta anos depois, sendo vinte deles trabalhando com pacientes oncológicos, a linha tênue entre a informação necessária, aquela que ajuda, e o seu excesso, está presente praticamente todos os dias em nossa profissão.


Acredito não existir uma fórmula que resolva todos os casos. A avaliação individualizada de cada cliente e a sensibilidade do profissional fazem toda diferença. A decisão de até onde ir com a informação não é fácil e deve ser revista a cada consulta.


Honestidade é valor inegociável

A honestidade na relação médico-paciente é um dos fatores mais importantes no estabelecimento da confiança e da empatia que irá reger todo o acompanhamento, desde a primeira consulta até o desfecho, qualquer que seja ele.


É comum um paciente perguntar: “Dr. o senhor não está escondendo nada de mim, não né?”.


Esse é um dos sinais de que está na hora de reforçar que a verdade pautará esse relacionamento.


Como o paciente deve saber do próprio diagnóstico

Mas ser verdadeiro não quer dizer falar tudo de uma vez e com as palavras cruas. Sensibilidade é preciso.


Ou seja, cabe ao médico, detentor do conhecimento científico, saber quando, como e o quanto falar a cada encontro, de maneira que a informação seja passada em palavras simples, no momento certo e para quem realmente importa.


Outro ponto a ser levado em conta é o poder da família na determinação do que será passado ou não para o paciente. Claro que os entes próximos ao paciente sabem muito mais sobre os fatores relacionados à sua visão de mundo. Isto é, tentar ultrapassar os limites, sem levar isso em consideração pode levar a um desastre para a vida de todos.

O apoio de familiares é fundamental para pacientes em tratamento
O apoio de familiares é fundamental para pacientes em tratamento

Saber o diagnóstico é um direito do paciente

De toda forma, mesmo quando os familiares considerarem que não é adequado que a pessoa saiba tudo sobre a doença que o aflige, eles devem ser lembrados de que, a não ser o paciente seja considerado incapaz, é seu direito receber as informações que deseje conhecer.


Ninguém será tão importante nesse contexto quanto as pessoas mais próximas, para que o processo de adoecimento e tratamento seja bem conduzido, em toda sua trajetória.


Todavia, devemos lembrá-las de que, principalmente no caso de problemas crônicos, o paciente pode ter a sensação de que foi enganado, caso descubra que seus parentes esconderam informações sobre sua saúde.


Consciência e humanização

Nunca me arrependi de ser honesto com meus pacientes e sempre tento exercitar a delicadeza e a sensibilidade no momento de passar os detalhes do que os aflige.


Mesmo em caso de doenças em que não há chance de cura, saber sobre o que está acontecendo permite que o indivíduo coloque seus assuntos em dia, resolva pendências e participe da escolha do próprio tratamento.


É por isso que considero que equipe médica, doente e família, juntos, são a melhor opção para a definição dos rumos do acompanhamento de uma pessoa. Decisões unilaterais serão sempre falhas, e momentos de trocas insubstituíveis poderão ser perdidos para sempre.


A todos, nossos votos de bem viver!


PS: Dedico este texto ao querido Salomão “Le bon” e aos meus avós Nina, Hélio, Maria e Sebastião, que passaram por esta terra e deixaram saudades eternas.

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