Será que o medo de cirurgia justifica hoje em dia? Há algum tempo, fizemos uma enquete interna em minha clínica e no meu Instagram, perguntando o que mais causava medo a elas quando o assunto era cirurgia de intestino.
As respostas foram as mais variadas e, depois de um tempo lendo e relendo os resultados obtidos, achamos que seria interessante colocar aqui aquilo que foi mais frequente e, assim, trazer luz ao que realmente é verdade e o que é apenas mito.
Principais medos dos pacientes
Apesar de poucos pacientes se mostrarem receosos sobre o risco de, durante a cirurgia, algo ser trocado neles, ou de serem esquecidos anestesiados em algum canto do hospital, a grande maioria definiu seus maiores medos como:
Anestesia
Acordar com uma colostomia
Morrer durante o procedimento
Sentir dor e não conseguir falar
Não saber o que vai acontecer consigo
A medicina evoluiu muito, mas uma coisa que a tecnologia não substitui é o relacionamento humano. Ao longo deste texto, vocês vão observar que a conversa esclarecedora entre o profissional médico e seu paciente exerce um papel fundamental em acalmar a alma de quem será operado.
Comunicação entre médico e paciente é essencial
Sempre acreditamos na comunicação para trazer calma ao paciente. O medo do desconhecido é algo natural em todo ser humano, e não há algo mais fora da rotina de uma pessoa do que sair de casa, ser internada em um local totalmente estranho e entregar sua vida na mão de vários profissionais, muitas vezes tão encapotados que nem podem ser reconhecidos.
A banalização do medo ou dos procedimentos cirúrgicos é algo péssimo, isto é, não existem perguntas bobas, e nós devemos tentar sanar todas as dúvidas. A operação deve ser levada a sério, mesmo aquelas consideradas simples, uma vez que todos os procedimentos são passíveis de complicações.
Não é infrequente quando perguntamos se o paciente já foi submetido a alguma cirurgia, ele falar “não” de início e, depois, perguntar se “cirurgia plástica ou cesárea contam?”. Claro que sim!
Mas e o medo de cirurgia?
Bom, vamos ao que interessa, que são os medos relacionados a cirurgia.
1. Medo de anestesia
Já pudemos falar da importância de um profissional anestesiologista em todos os procedimentos em que haja alteração de consciência do paciente ou em que haja bloqueio regionais. Sabe aquela história de ficar com um olho na onça e outro no pau? Isso não dá certo.
Em outras palavras, o cirurgião tem que se concentrar no procedimento, então, é necessário outro especialista para cuidar da analgesia.
Você sabia que em procedimentos planejados a chance de morte relacionada a anestesia é menor que 1 a cada 100.000 cirurgias? Converse com seu médico sobre quem é a equipe de anestesiologia que estará por você.
2. Acordar com uma colostomia
Já falamos muito sobre as colostomia e, aqui no blog, temos vários textos que ajudam a esclarecer a importância da colostomia e de quão raro ela é utilizada hoje em dia.
Infelizmente, sempre que há necessidade de abordagem do intestino, há algum risco de ser necessária uma colostomia, seja ela programada ou de urgência. Mas isso é cada vez mais previsível e pode ser discutido com o paciente antes de ir para o bloco.
Para saber mais sobre este assunto, confira os dois textos abaixo:
3. Morrer durante o procedimento
Hoje em dia, morrer em um bloco cirúrgico em uma cirurgia eletiva (planejada) é tão raro que, se acontecer, todo mundo do hospital para analisar o que houve e aprender para que nunca mais aconteça. Hospitais sérios possuem uma comissão para analisar cada óbito ocorrido em suas dependências, cada caso é verificado e gera procedimentos de segurança.
Na literatura médica, um estudo analisou mais de 62.000 procedimentos realizados em um hospital geral, e concluiu que, incluindo todos os casos, a chance de morrer em um bloco cirúrgico foi de 0,17%. Ou seja, é extremamente baixa, especialmente se compararmos com o risco de morrer durante um acidente automobilístico: 1 em cada 101 ocorrências.
Devemos ressaltar que sempre antes de indicar um procedimento, o cirurgião pesa os risco e benefícios do procedimento, então, se a cirurgia foi indicada, a chance de dar certo tem que ser maior do que de dar errado.
4. Sentir dor e não conseguir falar
Essa questão cai na mesma discussão de ter uma boa equipe de anestesiologia cuidando de você. Os hospitais de maior porte têm monitores que conseguem analisar o nível das medicações e consciência do paciente de maneira que os parâmetros de controle de dor, profundidade da anestesia e atividade cerebral sejam adequadamente acessados.
Anestesia demais ou de menos é ruim. Nas mãos de profissionais sérios, a chance é ínfima disso acontecer.
5. Não saber o que vai acontecer consigo
Por fim, o medo de não saber o que vai acontecer com você é comum entre os pacientes. Já abordamos isso neste artigo sobre não ir para a cirurgia com dúvidas.
Como dissemos antes, a comunicação é fundamenta. Ou seja, manter um relacionamento franco entre médico e paciente é muito necessário. Então, tire suas dúvidas antes da cirurgia para que você saiba tudo que vai acontecer e tenha oportunidade de esclarecer todos os medos antes de chegar no hospital.
Dica para o dia da cirurgia
O dia da sua operação deve ser calmo, com foco apenas no procedimento e na sua saúde. Não saia de casa correndo e não marque nada inadiável para depois da cirurgia. Esse foco diminuirá muito o seu sofrimento mental. Em outras palavras, reserve toda sua energia na sua recuperação, você verá que vale a pena!
Conclusão
Esperamos ter ajudado a diminuir a ansiedade de vocês sobre um processo tão importante e pelo qual a maioria das pessoas vai passar algum dia. Se algum tema não foi abordado, não deixe de me falar!
Esperamos que todos fiquem bem!
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