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VAAFT: Qual é a melhor indicação para tratamento de fístulas perianais?

Desde o início de minha formação como coloproctologista, tive a oportunidade de trabalhar com pessoas referência no tratamento de fístulas perianais. Esse problema muito comum tem uma peculiaridade interessante:


Sua complexidade pode variar desde casos muito simples até situações que representam desafios quase insolúveis.


A fístula perianal é uma comunicação anormal entre o canal do ânus e a pele da região glútea. Os caminhos, por baixo da pele, podem ter trajetos bastante variáveis que, dependendo de por onde passam, classificam e definem as fístulas como simples e complexas.


Sintomas e tratamentos das fístulas persianas

Os sintomas das fístulas perianais são muito variáveis, mas a queixa mais comum é secreção, saindo por um orifício perto do ânus. Além disso, o paciente pode apresentar:

  • Dor

  • Febre

  • Sangramento

  • Perda da qualidade de vida é significativa.


Como a fístula perianal é uma doença de tratamento predominantemente cirúrgico, a abordagem do paciente tem que visar 3 coisas:

  • Cicatrização completa

  • Taxa de complicações

  • Consequências do tratamento

Tratamento minimamente invasivo

As fístulas são consideradas complexas, conforme o número de orifícios externos e internos, trajetos múltiplos ou incompletos ou presença de abscessos no seu interir - e são nesses casos que a medicina mais evoluiu.


Antigamente, os procedimentos tendiam a se preocupar menos com a taxa de complicação e a estética da região, assim, grandes incisões eram consideradas normais.


Até hoje podemos ver colegas que dizem que o que importa é a cicatrização completa da fístula, sendo a cicatriz algo secundário.


Como definir o tratamento para fístulas

A meu ver, o tratamento nunca pode ser mais agressivo que a própria doença. A taxa de sucesso de um método é, sim, muito importante, mas a manutenção da capacidade de segurar as fezes e a manutenção da anatomia original da região também são.


É aí que entra o papel das técnicas minimamente invasivas e preservadoras do esfincter anal.


Hoje temos à disposição grande quantidade de técnicas para a abordagem de fístula, e elas parecem uma sopa de letrinhas. Alguns exemplos são:

Em outros artigos, iremos falar um pouco de cada uma, hoje, escolhemos a técnica VAAFT.


Cicatrização das fístulas perianais

Imaginem que a fístula é um pequeno tubo que liga a região do canal do ânus até a pele perto do dele e, dentro, ficam restos celulares, resíduos fecais, pus e restos de cicatrizações incompletas.


Esse conteúdo impede que o trajeto cicatrize, e o fato de estar em contato com o canal anal, através do orifício interno, acaba por manter este processo de contaminação contínuo.


É por isso que essa doença não cicatriza sozinha, sendo preciso uma intervenção cirúrgica para limpar todo o trajeto e também interromper a contaminação dentro do reto.


Como é feita a limpeza

A limpeza é feita por uma cureta (espécie de micro colher que “raspa” o trajeto e remove as sujidades do caminho) e, depois, o trajeto é interrompido por meio de retalhos, suturas e até grampeadores especiais.


A dificuldade é que a curetagem é feita apenas com a sensibilidade do tato do cirurgião, que vai procurando o trajeto da fístula e limpando continuamente.


VAAFT: tratamento da fístula perianal por vídeo

Há alguns anos, contamos com a tecnologia do VAAFT - sigla em inglês que significa ”ablação do trajeto fistuloso assistida por vídeo”. Nesse tratamento para fístulas perianais, o médico introduz uma microcâmera de 3 mm, dentro do orifício externo da fístula e percorre todo ele, até chegar na sua parte mais interna.


A partir desse ponto, vamos cauterizando e removendo tudo aquilo que impede a cicatrização e, ao final, o orifício interno, que está dentro do canal do ânus, é fechado para impedir o retorno da contaminação.


Vantagens da VAAFT

Mais do que um tipo de cirurgia, o VAAFT permite associar as técnicas cirúrgicas minimamente invasivas com os procedimentos preservadores de esfíncter, o que pode promover ao paciente as melhores chances de sucesso.

VAAFT é uma técnica que pode ser usada no tratamento de fístulas perianais
VAAFT é uma técnica que pode ser usada no tratamento de fístulas perianais

Agora, todas as pessoas com fístulas complexas têm que saber que essa doença, em geral, tem cicatrização difícil e nenhuma técnica consegue 100% de sucesso. O uso do VAAFT obtém em torno de 76% de cicatrização completa, o que é muito bom.


O mais importante é que a chance de complicações, como a incontinência, é muito baixa e ela pode ser repetida sem prejuízo para o paciente.


Conclusão

Em se tratando das fístulas perianais, paciência é uma virtude. Fazer o estudo adequado do trajeto, preparar adequadamente o paciente do ponto de vista nutricional, orgânico e psicológico, além de contar com uma equipe experiente e que domine as principais técnicas, faz toda diferença.


Excelente semana a todos!

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