O cirurgião deve pensar em tratar a doença, mas, e a cicatriz que o procedimento deixa? Dando continuidade ao assunto da semana passada sobre estética anal, agora vamos abordar a cicatriz de cirurgia abdominal.
A estética muitas vezes é considerada um tema tabu no consultório médico. No caso das cirurgias abdominais, o principal motivo é o medo que o paciente tem em perguntar sobre a cicatriz e o questionamento “pegar mal” com o cirurgião.
Necessidade de cirurgia abdominal
Quase sempre que uma pessoa tem indicação de tratamento do intestino por via abdominal, a causa é uma doença séria e envolve uma cirurgia que, quando há complicações, elas são ameaçadoras à vida.
Assim, quando um paciente está na frente do médico, conversando sobre riscos ou necessidade de colostomia, fazer uma pergunta se a cirurgia vai deixar cicatriz pode parecer fútil. O pior é que alguns cirurgiões até pensam assim, respondem esses questionamentos com aspereza e a cultura do medo e da inibição continua.
E não é para ser assim…
Cicatriz de cirurgia abdominal evoluiu muito
A medicina evoluiu muito. No século passado, os cirurgiões eram valorizados pela velocidade, destreza e tamanho do corte. Sim, é impressionante, mas, até os anos 2000, a frase “grandes cirurgiões, grandes incisões” era proferida com orgulho por muitos professores de cirurgia.
A popularização da cirurgia intestinal, no início dos anos 2000, permitiu praticar as mesmas cirurgias que antes demandava a abertura completa do abdome, com pequenos orifícios e passagem de pinças especiais. Mas não pensem que foi fácil.
Houve resistência dos médicos mais conservadores, que acreditavam que a impossibilidade de colocar a mão dentro do paciente pioraria a qualidade do procedimento. Hoje, tudo isso caiu por terra.
A qualidade da cirurgia laparoscópica, com uso de câmeras de alta definição e materiais adequados, é tão boa quanto e até melhor que as cirurgias abertas. E as plataformas robóticas estão chegando com maior possibilidade de evolução.
Como é possível pensar em estética abdominal?
Quanto menor as incisões (cortes), menores serão as cicatrizes, mas existem alguns fatores que são determinantes em um bom resultado na aparência das feridas cirúrgicas. Veja a seguir seis deles.
1. Tamanho
Basicamente, quanto menor o corte, melhor, mas devemos lembrar que uma incisão deve ter o tamanho mínimo adequado para a realização da cirurgia, com segurança e qualidade.
2. Localização
Quando possível, é recomendável que as cicatrizes cirúrgicas sejam posicionadas em locais pouco expostos (como a linha da cintura) ou próximos a áreas como a cicatriz umbilical, ou de cirurgias antigas, para então não adicionar prejuízo visual ao paciente.
3. Direção
A nossa pele sempre tem uma direção preferencial de cicatrização. Nela, existem linhas de força favoráveis a uma cicatrização mais adequada. Sempre procuramos seguir a melhor orientação para obter o melhor resultado.
4. Ausência de infecção
Ferida infectada é igual a cicatriz ruim, e todo cuidado com a higiene deve ser tomado para evitá-la, principalmente em cirurgias contaminadas como as intestinais.
5. Proteção contra raios solares
A exposição aos raios ultravioleta do sol ponte levar ao escurecimento da cicatriz. A recomendação é evitar a exposição da ferida diretamente ao sol por seis meses ou até a cicatriz perder a cor avermelhada e ficar da mesma cor da pele.
6. Nutrição
Precisamos de sangue (vascularização) e nutrientes para que as feridas se fechem e as cicatrizes sejam mais finas e planas. É importante manter a eutrofia (bom estado nutricional). Excessos e deficiências prejudicam demais o resultado.
Conclusão
Hoje, a busca por melhor resultado cirúrgico, aliada a mínimas sequelas funcionais ou visuais, é o princípio da abordagem minimamente invasiva das doenças intestinais.
Sendo assim, o bom aspecto da cicatriz após a cirurgia abdominal não só é possível, como deve ser buscada, sempre.
Um antigo professor meu sempre falava: não adianta fazer uma cirurgia maravilhosa dentro do abdome e deixar uma cicatriz horrorosa do lado de fora, pois essa é a que o paciente verá para o resto da vida.
Sejam felizes, queridos leitores!
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