Sejam bem-vindos novamente, caros leitores! O tema desta semana levanta uma questão antiga que, de tempos em tempos, devemos revisitar: a cirurgia de hemorroida com grampeador. Em pleno 2024, será que o benefício supera o risco?
Sempre que discutimos assuntos como esse, tentamos colocar o máximo de embasamento científico possível, e hoje não será diferente.
Cirurgias para tratamento de hemorroidas
A cirurgia para tratamento da doença hemorroidária é cercada de mitos, medos e tabus, mas o que mais assusta os pacientes é a dor pós-operatória. Todas as tecnologias que foram desenvolvidas no tratamento das hemorroidas tiveram como objetivo diminuir a dor, visto que, em termo de sucesso e chance de cura, a cirurgia convencional é ótima, com taxas de resolução do problema que giram em torno de 98%.
Entretanto, sempre se esbarra num problema: como diminuir a dor e não impactar na taxa de cura? Essa é a pergunta de ouro.
Quanto menos invasiva é a operação, menos traumatismo na região e menor sofrimento e, foi assim que foi proposto o tratamento cirúrgico do prolapso hemorroidária, com uso de grampeadores. E vocês sabem como é o princípio do tratamento?
Cirurgia de hemorroida com grampeamento
Para esse tipo de cirurgia de hemorroida foi desenvolvido um grampeador circular automático que tem duas funções: cortar e grampear, simultaneamente.
O cirurgião introduz esse aparelho no canal anal do paciente e traciona o excesso de mucosa e hemorroidas internas para dentro dele. Ao acionar o equipamento, há uma lâmina que remove as estruturas doentes e os grampos fecham a área cortada.
Notem que todo o tratamento é feito no canal anal e, sendo assim, essa opção foi desenvolvida para quem tem hemorroidas internas.
Cirurgia com grampeamento remove excesso da hemorroida
Deu para entender como funciona a cirurgia de hemorroida com grampeamento?
Os detalhes técnicos são um pouco confusos mesmo, mas o importante é assimilar que o princípio da técnica é remover o excesso de mucosa e mamilos hemorroidários, além de interromper o hiperfluxo de sangue local.
Na teoria, é isso. Mas…
Problemas com a técnica de grampeamento
Quando analisamos os estudos disponíveis, encontramos alguns problemas com relação à cirurgia de hemorroida com grampeamento. Por exemplo:
Não resolve a hemorroida externa (hoje, existem cirurgiões que combinam o grampeamento com a retirada do componente externo das hemorroidas, o que gera um pouco mais de desconforto no pós-operatório, mas adiciona melhor resultado a longo prazo).
A taxa de recorrência dos sintomas é significativamente maior do que na cirurgia convencional.
A chance de precisar de um novo procedimento cirúrgico é maior do que em outras técnicas.
A taxa de incontinência, fístulas retovaginais, perfuração do reto e distúrbios evacuatórios é maior com a técnica com grampeadores.
Com base nesses fatos, a relação risco-benefício da cirurgia de hemorroida com grampeador foi considerada inadequada, o que resultou em sua não recomendação como tratamento de primeira linha, conforme estudo publicado em uma das revistas mais respeitadas do mundo em 2024.
Conclusão
Considerando os fatos que listamos acima, no momento em que escrevemos este artigo, em nossa prática clínica, acreditamos que a utilização da cirurgia com uso de grampeadores não deve ser indicado de maneira rotineira, mas apenas em casos selecionados.
Além disso, a cirurgia de hemorroida com grampeamento deve ser realizada por profissionais adequadamente treinados para sua realização e tratamento das complicações que porventura possam advir da sua realização.
Vamos continuar acompanhando e mantendo vocês informados sobre novas evoluções no tratamento das hemorroidas.
Até mais, pessoal!
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