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Depressão e intestino: relação entre saúde mental e microbiota intestinal

Frases como “o intestino é o segundo cérebro”, “I have a gut feeling” – do inglês, “tenho uma sensação nos intestinos” – e muitas outras nos levam a pensar se existe relação entre o que uma pessoa sente e o funcionamento intestinal. Será que a saúde do intestino tem ligação até mesmo com um quadro de depressão?


No trabalho diário, o coloproctologista encontra pessoas que relatam que, em momentos de fortes emoções, apresentam quadros de diarreia ou constipação intestinal (prisão de ventre).


Entretanto, apesar de ser bem possível observar uma correlação entre intestino e saúde mental, não é tão fácil assim cuidar do bem-estar intestinal para controlar uma doença psiquiátrica.


Apesar de complexo, vale muito a pena compreender isso. Então, acompanhe!


Entenda a relação entre intestino e depressão


A depressão é uma doença psiquiátrica que atinge grande parte da população mundial, mais precisamente, 300 milhões, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).


Esse transtorno causa sérias consequências na qualidade de vida dos afetados, como o isolamento ou retração social, sofrimento para si próprio e familiares e até mesmo a morte.


Estudos apontam que cerca de um terço das pessoas diagnosticadas com depressão vão apresentar quadro de constipação intestinal, o que consequentemente piora ainda mais o sofrimento.


Pacientes com depressão têm uma relação muito complexa com o funcionamento intestinal, pois frequentemente apresentam distúrbios alimentares, têm dificuldade de se manter ativos fisicamente e fazem uso de medicações que atrapalham significativamente os movimentos do intestino.


Além disso, mais recentemente, o conceito de disbiose foi acrescentado a essa equação.


Disbiose intestinal e saúde mental


Disbiose é o nome dado ao desequilíbrio da microbiota intestinal. Esta, por sua vez, é o conjunto de todos os microorganismos e vírus que residem em um hospedeiro.


Em outras palavras, no caso do intestino, a microbiota tem papel fundamental em questões como:

  • Absorção de nutrientes;

  • Barreira protetora contra a penetração a agentes nocivos;

  • Eliminação de resíduos;

  • Estabilidade local do ambiente.

Quando o paciente tem um quadro de disbiose, estamos diante de um crescimento desordenado de algumas bactérias que são prejudiciais à homeostase, isto é, o equilíbrio na região do intestino.


Assim, há menor absorção de nutrientes, maior fermentação e consequente maior produção de gases, além de desconforto e dor abdominal.


Como a microbiota tem a ver com a depressão?


A pergunta que não quer calar é: mas como será que o desequilíbrio da microbiota intestinal interfere no curso da depressão de um paciente?

Estudos buscam entender a relação entre depressão e intestino
Microbiota intestinal tem relação com a saúde mental

Segundo o estudo “A Gut Feeling: The Importance of the Intestinal Microbiota in Psychiatric”, podemos ver interações multifatoriais que ocorrem entre a microbiota intestinal e o sistema nervoso. Isto é, segundo os estudiosos, o sistema nervoso central e a microbiota estão conectados.


Além disso, é possível observar também como o desequilíbrio das bactérias do intestino afetam o imunológico e o sistema neuronal.


Intestino e sistema nervoso


O intestino é sede de uma parte importante de um sistema chamado de nervo-autônomo, que controla a digestão, por exemplo. Ou seja, tudo que é crucial para regular a movimentação do bolo fecal, a produção de enzimas e de neurotransmissores, entre eles a serotonina – fundamental para a sensação de bem-estar, junto com a dopamina.


Assim, nos pacientes com desordens psiquiátricas, o desequilíbrio e o metabolismo influenciam na falta de nutrientes e oxigênio para os microrganismos residentes na mucosa intestinal.


Neurotransmissores afetados


No caso da depressão, sabemos que ocorre uma diminuição dos níveis de dopamina, serotonina e noradrenalina, mas nem todo paciente responde às medicações que deveriam aumentar os níveis desses neurotransmissores.


Então, pesquisadores tentam identificar outros fatores que possam estar fazendo com que a depressão persista, com o ambiente, as alterações no sistema nervoso autônomo, a neuro-inflamação e a disbiose.


Pesquisas já revelaram uma composição diferente na microbiota de pacientes com depressão, inclusive apresentando predominância de “bacteroidetes” e “proteobactérias”, em vez de outros componentes benéficos.


Uso de probióticos pode reduzir sofrimento


Algo interessante de ser observado nos estudos é que pacientes que receberam reposição oral de probióticos – compostos de lactobacilos e bifidobactérias (microrganismos do bem) – conseguiram ter o sofrimento psicológico reduzido.


Por outro lado, devemos ressaltar que esses estudos não são definitivos. Então, o médico deverá avaliar cuidadosamente a conclusão de causa e efeito, antes de se determinar a conduta. De toda forma, não podemos descartar a possibilidade de haver relação entre o intestino, sua microbiota e distúrbios psiquiátricos.


Depressão deve ser tratada pelo médico


Com base em tudo que abordamos nesse texto, cabe ao médico avaliar o paciente como um todo, lembrando que ele não tem apenas um problema e, sim, representa o resultado de sua interação socioambiental, inclusive alimentação e comportamento.


Em outras palavras, não adianta atacar a doença diagnosticada, sem observar as particularidades de cada indivíduo. Então, em casos específicos, o especialista poderá prescrever medicações para regularizar o funcionamento intestinal.


Isso inclui probióticos e prebióticos, que podem auxiliar na melhora da qualidade de vida e até no resultado do tratamento com medicações antidepressivas.


Até semana que vem!

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