Ao longo de todo o mês de setembro, escrevi aqui no blog sobre formas de prevenir o câncer de intestino, assim como as opções de tratamento mais utilizadas atualmente. Mas sinto que esse assunto precisa ser reforçado o ano inteiro.
Com a força da internet, das redes sociais e da disponibilidade de informações, é cada vez mais frequente a discussão sobre a utilização de medicamentos para prevenir o câncer de intestino.
Ou seja, as pessoas querem muito saber se existem remédios com potencial para diminuir a incidência e o risco de câncer. Realmente, existem estudos sobre esse assunto!
Medicamentos para prevenir doenças
A ideia da prevenção de doenças por meio de medicamentos não é nova e já é utilizada há muitos anos na cardiologia. Isto é, o uso de anti-hipertensivos e antiagregantes plaquetários – como o ácido acetil salicílico (AAS) – conseguiu diminuir drasticamente a mortalidade por doenças cardiovasculares nos últimos 40 anos.
Porém, no caso da prevenção ao câncer de intestino, os pesquisadores encontram um fator que dificulta muito a eficácia disso: a falta de biomarcadores (indicadores) válidos, capazes de identificar se há uma relação entre o uso de uma medicação e o efeito de prevenir um tumor maligno.
Em outras palavras, um câncer pode demorar anos para se desenvolver e vários fatores podem ser responsáveis por sua ocorrência. Ou seja, tentar identificar relações de causa e efeito, sem o devido embasamento, pode representar algo desastroso.
Risco X benefício de medicamentos
Antes de avaliar se um medicamento consegue prevenir o câncer de intestino, precisamos entender muito bem o conceito de risco X benefício.
Se uma droga tem como efeito principal a diminuição do risco do câncer de intestino, mas apresenta um efeito colateral de dano nafunção do rim com o passar do tempo, ela não poderá ser considerada segura para o uso. Isso porque a chance de uma pessoa apresentar um tumor maligno de intestino é pequena.
Por outro lado, o raciocínio contrário também pode ser utilizado. Isto é, se uma pessoa tem alto risco familiar de desenvolver câncer, ela poderá se beneficiar do uso de uma medicação que previne o tumor e apresenta pouca chance de lesar o coração. Nesse caso, o benefício supera o risco.
Anti-inflamatórios e câncer de intestino
O câncer colorretal é a quarta principal causa de morte por tumor maligno em todo mundo.
Vários estudos associaram a utilização de AAS e outras drogas anti-inflamatórias não esteroidais a uma queda na incidência de tumores de intestino. Os resultados demonstram uma redução de até 27% nos casos de neoplasias, com benefícios de uso por cinco anos e que aumentavam com a manutenção prolongada.
Vários ensaios clínicos demonstraram que a utilização do AAS, mesmo em doses baixas, podem diminuir as chances de morte por câncer de intestino, enquanto os efeitos adversos seriam aceitáveis nas populações em que o risco de desenvolvimento da doença fosse alto.
Recomendações de medicamentos para prevenir câncer de intestino
Além dos bons resultados com relação às lesões de câncer de intestino, o AAS é utilizado para a prevenção de eventos cardiovasculares em faixas etárias de risco. Com isso, a força-tarefa de prevenção de câncer dos Estados Unidos incluiu a recomendação dessa droga para indivíduos entre 50 e 59 anos, com alto risco de doenças cardiovasculares.
Já outros pesquisadores recomendaram estender a faixa etária até os 65 anos.
Entretanto, algumas medicações anti-inflamatórias, como o celecoxibe, mostraram efeitos colaterais significativos e, portanto, não justificam sua aplicação na prevenção do câncer de intestino em indivíduos de baixo risco.
Por sua vez, a utilização de AAS e outro anti-inflamatório, o Sulindac – não disponível em farmácias brasileiras – se mostrou muito efetiva em portadores de síndromes hereditárias, como a polipose adenomatosa intestinal e a síndrome de Lynch, além de familiares em risco, bem como portadores de pólipos adenomatosos.
Esses indivíduos têm alto risco de desenvolvimento de lesões malignas de intestino e, assim, houve redução significativa da incidência de adenomas e de cânceres, não só de intestino, mas outros de ocorrência aumentada nos portadores.
Outros estudos sobre drogas para prevenir câncer de intestino
Existem outros medicamentos que passam por estudos para avaliar se são capazes de atuar na prevenção do câncer de intestino. A seguir, alguns exemplos.
Metformina
A utilização de metformina, principalmente em pacientes com resistência insulínica (hiperinsulinemia), tem atuação na prevenção de carcinogênese, além de ser capaz de diminuir a proliferação celular e aumentar a destruição de células neoplásicas e pré-neoplásicas.
Estudos relacionaram certo benefício no desenvolvimento do câncer de cólon e também de adenomas intestinais.
Considerando a boa segurança e os poucos efeitos colaterais da metformina, ela pode ser uma opção para pacientes diabéticos, com resistência insulínica e até os saudáveis, desde que avaliados cuidadosamente pelo médico.
Mas é importante lembrar que os estudos que concluíram esse benefício da metformina utilizaram populações selecionadas, com pouco tempo de acompanhamento. Isto, esperamos resultados mais robustos, para que o medicamento possa ser realmente indicado com essa finalidade.
Vitamina D
O calcitriol, um “produto” da vitamina D, atua nas vias que regulam a proliferação e a morte programada celular, bem como na inflamação, invasão, formação de vasos sanguíneos e metástases.
Estudos demonstram que existe uma relação inversa entre o nível de vitamina D e o risco de câncer de intestino. Ou seja, quanto mais vitamina, menor seria a chance da doença.
Mas essa correlação não foi definitivamente avaliada em grandes acompanhamentos populacionais. Além disso, as análises revelaram uma associação maior ao risco de uma pior evolução do câncer do que a efetiva prevenção.
Em outras palavras, é importante lembrar que existe o risco de hipervitaminose, isto é, a suplementação exagerada de vitamina D. Por isso, é preciso que as pessoas com indicação de uso de vitamínicos sejam acompanhadas por um médico especialista.
Medicamentos contra câncer têm indicação limitada
Como pode ser visto ao longo do texto, as medicações que seriam para prevenir câncer e outros tumores não são para todas as pessoas. Mas algumas populações podem se beneficiar do uso e, consequentemente, apresentar uma diminuição no risco de desenvolvimento de tumores malignos do intestino.
Porém, é essencial lembrar que o uso indiscriminado de medicações, mesmo as aparentemente “inofensivas” como vitaminas, pode oferecer risco. Por isso, é sempre importante que as pessoas sejam acompanhadas por um profissional competente.
Até a próxima semana!
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