Flatulência, meteorismo e distensão abdominal: sintomas e causas – Parte 1
- Dr. Bruno Giusti Werneck
- 14 de dez. de 2022
- 3 min de leitura
Quando um médico se vê frente a frente com algum problema em que a causa não é facilmente identificada e o tratamento nem sempre leva a resultados com resolução definitiva, muitas vezes a consulta fica naquele impasse; para que lado ir?
Esse é o caso das queixas relacionadas a flatulência, meteorismo e distensão abdominal. Como é muito importante entendermos a formação de gases e o sofrimento que eles causam, vamos abordar esse problema que vemos todos os dias, de maneira sincera e baseada em evidências.
Essa é a parte 1 de 3, em que vamos debater um tema de grande relevância. Então, continue a leitura!
O problema da flatulência
Só para ilustrar, vamos lembrar algumas frases célebres de quem sofre com flatulências:
“Acordo com a barriga que nem uma prancha e, no final do dia, pareço um balão.”
“Meu estômago fica inchado e alto, parece que tudo está parado, só um arroto melhora, fico o tempo todo constrangido.”
“Passo o dia querendo eliminar gases, mas nem sempre consigo.”
“Ouço uns barulhos na minha barriga o dia inteiro, isso incomoda até as pessoas que ficam perto de mim.”
Entenda o excesso de gases
O excesso de gases ou meteorismo é a sensação indefinida de gases presos no abdome, flatulência, sensação de pressão ou inchaço sem que haja óbvia distensão abdominal. Os pacientes também relatam abdome inchado.
É importante lembrar que isso é uma sensação ou sintoma sem doença – isto é, no texto de hoje, não estamos discutindo a obstrução do intestino, o que é um problema orgânico e deve ser abordado imediatamente.
Flatulência ou gases
A palavra flatulência pode ser utilizada como sinônimo ou também ser relacionada à liberação exagerada de flatos pelo ânus.
Esse problema é tão comum, que existem critérios para o seu diagnóstico de maneira que consigamos defini-la com maior facilidade e sem que haja necessidade de excessos de exames.
Diagnóstico do meteorismo e flatulência
Definir uma causa específica é impossível, pois o meteorismo é multifatorial e está frequentemente relacionado a sensibilidades individuais. Em outras palavras, não existe receita de bolo para o diagnóstico. Cada paciente é um desafio individual e requer sensibilidade do médico, bem como disposição ao autoconhecimento por parte do paciente.
De toda forma, as causas orgânicas não fazem parte da síndrome funcional do meteorismo, isto é, um problema em que não há um tumor, uma infecção, inflamação identificáveis.
Entretanto, cabe ao médico excluir possíveis doenças que confundem o diagnóstico, aplicar os questionários com critérios de definição do excesso de gases e obter o máximo de informações sobre a evolução de cada doente.
Causas orgânicas que devem ser excluídas
Vamos listar aqui, as principais causas orgânicas que devem ser excluídas.
Síndrome de supercrescimento bacteriano ou fúngica
Hipotireoidismo
Doença celíaca
Tumores de intestino e outros órgãos abdominais
Síndromes disabsortivas
Além disso, doenças funcionais podem estar relacionadas, geralmente associadas a outros sintomas que as diferenciam:
Síndrome do intestino irritável
Constipação intestinal crônica
Disfunção do assoalho pélvico
Dispepsia funcional
Para saber mais sobre os temas acima, procure em nosso blog pelos textos específicos.
Nem todo mundo produz gases em excesso
Apesar de a sensação das flatulências ser terrível e o desconforto impactar muito na qualidade de vida dos pacientes, a maioria não tem uma produção gasosa efetivamente maior. Inclusive, exames como a tomografia computadorizada são semelhantes em pessoas sem queixas e com meteorismo.
Então, se não há doença detectável e os exames são normais, de onde vem o problema?
Aí está a pergunta de um milhão de dólares…

Causas do problema das flatulências
Atualmente, acredita-se que haja muitos fatores envolvidos, mas as principais linhas de pensamento estão relacionados abaixo.
Limiar de sensibilidade reduzido
Nesse caso, a pessoa tem sensações de desconforto mesmo com a mesma quantidade de gases no trato gastrointestinal.
Microbioma alterado
Como vimos em nossos textos sobre Disbiose e Síndrome fúngica, a alteração do equilíbrio de microrganismos em nosso sistema digestório afeta a fermentação dos nutrientes e consequente produção gasosa.
Motilidade intestinal alterada
Várias doenças intestinais têm a ver com a maneira que o bolo fecal é transportado, isto é, se não há contratilidade coordenada, não há propulsão efetiva, causando aumento de pressão no interior do órgão e sensação de desconforto.
Dissinergia abdominofrênica
Nome difícil, não é? Quando há produção de gases no nosso trato gastrointestinal, a reação normal do nosso abdome é contrair os músculos da parede abdominal e elevar levemente o músculo diafragma (aquele que separa o tórax do abdome), fazendo com que não haja modificação significativa da circunferência abdominal.
Na pessoa com dissinergia, o contrário ocorre, a barriga distende e o diafragma contrai, tornando o abdome mais proeminente.
Distúrbios do assoalho pélvico
Quando há uma dificuldade de eliminação efetiva de flatos por disfunção dos músculos da pelve, a sensação de obstrução de saída também pode gerar meteorismo.
Conclusão
Gostou desse texto? Então, fique de olho, pois, nas próximas duas semanas, falaremos mais sobre quais exames fazer, como tratar e como melhorar a qualidade de vida dos pacientes com flatulência com o mínimo de medicações.
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