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Você sofre com gases?

Quem sofre com gases sabe que flatulência ainda é um assunto tabu. Nossa sociedade muitas vezes pensa que liberação dos chamados flatos é sinal de falta de higiene e educação.


Mas soltar gases é normal, inclusive, todos os indivíduos devem liberar em torno de 200 a 700 ml de flatos diariamente, dependendo da dieta. Em outras palavras, são cerca de 13 a 21 gases por dia.


Por outro lado, os médicos consideram que parar de eliminar gases é um dos sintomas mais importantes de obstrução do fluxo normal dos intestinos, além de poder ser sinal maior de complicações intra-abdominais.


Como surgem os gases


A maior parte da produção dos gases vem da fermentação feita por bactérias pertencentes à microbiota intestinal, ar deglutido (“engolido”, ou seja, aerofagia) ou são provenientes da corrente sanguínea que difundem através da parede dos vasos até o intestino.


A avaliação clínica de pacientes que sofrem com gases costuma levar em conta estes fatores:

  • Aerofagia: pacientes mais ansiosos ou com apneia do sono, que utilizam dispositivos de pressão positiva de ar para dormir ou que ingerem grande quantidade de bebidas gaseificadas;

  • Fermentação excessiva: por intolerância a algum nutriente, alergias, ingestão excessiva de alimentos fermentáveis ou alterações na microbiota intestinal.

Explicações para quem sofre com gases


A seguir, vamos listar alguns dos problemas comuns que podem levar as pessoas a sofrer com as flatulências. Continue a leitura!


1. Intolerâncias alimentares


Talvez a mais conhecida e divulgada seja a intolerância ao leite (deficiência de lactase, a enzima que digere a lactose). Isto é, quando a pessoa ingere o leite, e a lactose não é digerida, as bactérias da microbiota intestinal a utilizam no processo fermentativo, que gera gases e sintomas.


Outros nutrientes frequentemente associados à sensibilidade e a esses sintomas fermentativos são os FODMAPS – sigla em inglês para alimentos sacarídeos fermentáveis, que podem ser mal digeridos por algumas pessoas. Exemplos de alimentos ricos em FODMAPS são:

  • Brócolis;

  • Couve-flor;

  • Feijão;

  • Lentilha;

  • Trigo.

Controle da alimentação ajuda que sofre com gases
Controle da alimentação ajuda que sofre com gases

Mas ATENÇÃO! Não é indicado que a pessoa interrompa o consumo de nenhum nutriente, sem a orientação de um profissional habilitado. Ou seja, apenas o médico do paciente deverá orientar sobre a suspensão de qualquer alimento.


Existem testes clínicos e laboratoriais que auxiliam no diagnóstico de intolerâncias, sem que haja prejuízo para a condição nutricional do paciente.


2. Alergias alimentares e doenças autoimunes


A alergia a algum nutriente ou desenvolvimento de doença autoimune podem estar associada a problemas digestivos, formação excessiva de gases e distensão do abdome. Essas condições são sérias e, sempre que o paciente sentir alterações, um médico deverá ser consultado.


O principal exemplo dessa condição é a doença celíaca, em que há a formação de anticorpos reacionais ao glúten que a pessoa consome, e representa consequências bastante graves para o paciente.


3. Ingestão excessiva de alimentos fermentáveis


Cada pessoa tem que conhecer o próprio organismo, mesmo que não haja uma intolerância orgânica a determinados alimentos. E, quando ingere algo em excesso, o limite de digestão é ultrapassado.


Com isso, quantidades significativas podem ser digeridas pelas bactérias, formando gases em excesso. Essa situação é muito comum principalmente quando o paciente consome, em excesso, cerveja e derivados de leite.


4. Alterações da microbiota intestinal


Existem algumas maneiras que levam à alteração do ambiente e destruição dos microrganismos responsáveis pela digestão adequada. Entre eles, podemos citar os antimicrobianos (medicamentos), bem como a desnutrição, além de doenças que alteram a estrutura do intestino, como as doenças inflamatórias intestinais e atrofias autoimunes.


Essa mudança da microbiota pode dar origem a superpopulações nocivas de micro-organismos com alto poder fermentativo. A causa disso pode ser um supercrescimento bacteriano ou um aumento exclusivo de um patógeno, que irá gerar prejuízo e sintomas ao pacientes – por exemplo, a infecção por clostridium difficile (bactéria oportunista, selecionada pelo uso de alguns antibióticos).


Cheiro e outras características dos gases


Os gases deglutidos e os decorrentes da difusão através dos vasos sanguíneos são constituídos basicamente dos componentes do ar ambiente e não têm cheiro especial. Mas os que têm origem nos produtos do metabolismo da microbiota intestinal representam uma história bem diferente, como explicaremos agora!


Constituição dos gases


Os gases originados pelas ações da microbiota são constituídos por hidrogênio, metano e dióxido de carbono (CO₂).

  • Hidrogênio: tem sua maior produção em pessoas com síndromes disabsortivas (doença celíaca, intolerância a lactose e ingestão dos FODMAPS);

  • Metano: também é produzido por meio do metabolismo bacteriano de fibras presentes na dieta, e cerca de 10% das pessoas possuem floras produtoras de metano, e não de hidrogênio;

  • Dióxido de carbono: está mais relacionado à ingestão de comidas gordurosas e alimentos gasosos e, como o CO₂ é mais difusível (“espalhável”) no sangue, ele raramente causa distensão e sintomas.

Tanto o metano quanto o hidrogênio são inflamáveis, entretanto, a não ser quando intencionalmente incendiados, não representam riscos para pessoas que os liberam perto de chamas.


Curiosidades sobre os gases


O chamado manual Merck, em sua 14ª edição, publicou um ensaio sobre flatos e os classificou da seguinte forma:

  1. O “Deslizante” – eliminado lentamente e silenciosamente e algumas vezes com efeitos devastadores (típico do elevador lotado);

  2. O “esfíncter aberto ou tipo ‘cocô’” – silencioso, mas com alta temperatura e com odor mais intenso;

  3. O “Batida de tambor” – mais sonoro e liberado prazerosamente em privacidade.

  4. O “Arroto” – caracterizado pela erupção abrupta que efetivamente interrompe (e frequentemente conclui) a conversa. Geralmente não tem odor pronunciado.

No próximo post, vamos falar sobre os principais sintomas de quem sofre com gases, os sinais de alerta, além de exames e abordagem terapêutica.


Desejo a todos boas festas!

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