O que é um microbioma intestinal saudável?
- drbrunoproctologista
- 25 de jun.
- 4 min de leitura
Nas últimas décadas, a ciência vem desvendando como a nossa saúde intestinal está profundamente conectada ao equilíbrio dos microrganismos que habitam o nosso intestino, isto é, o microbioma. Por outro lado, temos visto muita informação questionável sendo divulgada sobre o que faz bem para a microbiota e o que deve ser feito para evitar doenças.
Na literature médica recente, o artigo What defines a healthy gut microbiome?, publicado na revista científica Gut em 2024, traz uma análise abrangente sobre o que, de fato, caracteriza um microbioma intestinal saudável.
Então, ao longo do texto, vamos traduzir as principais informações do artigo para uma linguagem mais simples e acessível, explicando como o equilíbrio do intestino impacta nossa saúde geral e o que podemos fazer para cultivar uma microbiota saudável.
O que é um microbioma intestinal saudável?
A ciência mostra que um microbioma intestinal saudável não é igual para todos. Por isso, não há receita que valha para todo mundo sobre como deve ser constituída a população de microrganismos do trato gastrointestinal de cada um.
De toda forma, existem formas de se interpretar como anda a saúde do microbioma:
Ausência de doenças diagnosticadas no trato gastrointestinal.
Ausência de desconfortos (excesso de gases, inchaços e alterações no ritmo intestinal), ou seja, não há sintomas de problemas.
Organismo saudável, em geral – uma visão mais abrangente não apenas com relação ao funcionamento do intestino, mas também da função de um microbioma diverso e equilibrado que colabora com a digestão, produção de vitaminas e sistema imunológico.
Elementos de um microbioma intestinal saudável
Existem alguns elementos importantes que atuam nas funções do microbioma saudável. Elas giram em torno da formação de linhas de defesa contra agressores ao organismo e na absorção de nutrientes e vitaminas.
Microbioma intestinal: age na digestão, na produção de compostos benéficos como os ácidos graxos de cadeia curta (SCFAs), na defesa contra bactérias patogênicas e na regulação do sistema imunológico. Talvez você conheça isso como flora intestinal.
Barreira intestinal: composta por células epiteliais, muco, proteínas de junção e células imunológicas, impede a entrada de toxinas e microrganismos no sangue.
Fígado: funciona como um filtro, metabolizando toxinas e produtos vindos do intestino, e também influencia a composição da microbiota através dos ácidos biliares.

Como o microbioma saudável depende de alguns fatores, não é para ficarmos assustados quando alguém fala que estamos com disbiose (desequilíbrio) e com as defesas enfraquecidas. Não é bem assim.
Características de um microbioma saudável
Ainda que um microbioma intestinal saudável varia conforme cada pessoa, existem alguns sinais relacionados com a saúde de um indivíduo. Abaixo, vamos abordar alguns deles que podem, inclusive, ser identificados em exames funcionais e metabólicos do intestino. Para saber mais, converse com seu médico.
Alta diversidade microbiana
Uma maior variedade de espécies de microrganismos está associada a mais estabilidade e capacidade de recuperação após desequilíbrios.
Composição bacteriana equilibrada
A presença de grupos bacterianos benéficos e controle de bactérias oportunistas estão associadas a maior resistência e menos sintomas de intolerância. Esses grupos incluem:
Bifidobacterium
Faecalibacterium
Akkermansia
Boa funcionalidade
A capacidade de produzir metabólitos importantes, como SCFAs (especialmente butirato) auxiliam na manutenção da integridade da mucosa intestinal e regulação da imunidade.
Resiliência
A resiliência com relação à saúde da microbiota intestinal se refere à habilidade de se recuperar após perturbações, como uso de antibióticos ou mudanças alimentares.
Produção equilibrada de gases
Os gases intestinais são normais quando produzidos em equilíbrio, pois refletem processos fermentativos saudáveis. Exemplos de gases incluem:
Metano
Hidrogênio
Sulfeto de hidrogênio
pH intestinal adequado
Um intestino levemente ácido favorece bactérias benéficas.
Baixos níveis de inflamação
A inflamação pode ser identificada por marcadores como calprotectina e lactoferrina nas fezes.
Fígado e barreira intestinal saudáveis
Além dos pontos acima, precisamos lembrar que o intestino e o fígado trabalham em conjunto.
A barreira intestinal impede que fragmentos bacterianos, toxinas e compostos inflamatórios entrem na circulação. Quando essa barreira falha, o fígado assume a função de neutralizar essas substâncias. Mas sobrecargas frequentes podem levar a inflamações crônicas, como em caso de esteatose hepática e doenças inflamatórias intestinais.
É por isso que não devemos tentar achar apenas uma causa para cada sintoma, pois podemos ter sintomas relacionados à digestão, mas que podem ser manifestações de problemas multifatoriais relacionados a mais de um órgão.
Como manter a microbiota saudável
Como vimos, há vários fatores envolvidos na saúde do intestino. Então, o que podemos fazer para manter o microbioma intestinal saudável e equilibrado?
Alimentação saudável: rica em fibras, polifenóis, gorduras saudáveis e pobre em ultraprocessados.
Hábitos de longevidade: o microbioma evolui desde o nascimento (influenciado pelo tipo de parto e amamentação). Quanto mais tempo de vida a pessoa tem, mais importante é a adoção de hábitos de vida saudáveis abordados no ponto abaixo.
Estilo de vida: sono adequado, atividade física e controle do estresse, pois fortalecem a microbiota.
Controle do uso de antibióticos e medicamentos: podem causar desequilíbrios importantes, então, evite a automedicação e excessos desnecessários.
Controle da exposição a poluentes e aditivos alimentares: esses fatores e emulsificantes e adoçantes artificiais impactam negativamente a constituição do microbioma.
Em resumo, a construção de um microbioma intestinal saudável depende das nossas escolhas cotidianas. Adotar uma alimentação rica em fibras, com diversidade de vegetais, frutas, grãos integrais, além de incluir alimentos fermentados, pode fazer toda a diferença.
Da mesma forma, o manejo do estresse, sono de qualidade e evitar antibióticos desnecessários são pilares para preservar a saúde intestinal. Ainda há muito a ser descoberto, mas é inegável que cuidar do intestino é investir na saúde geral.
Nos acompanhem para mais informação atualizada e de qualidade sobre a saúde intestinal!
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