Desde que começamos nossa prática clínica, percebemos que a convicção coletiva é de que pessoas com diverticulite não podem comer sementes. Por outro lado, ao fazer uma revisão da literatura médica, não consegui encontrar nada que corroborasse essa premissa.
Bom, é muito frequente ouvirmos orientações desse tipo, mesmo vindo de colegas médicos.
O embasamento dessa conduta seria relacionada à possibilidade de que as sementes entrariam em um divertículo e causariam sua inflamação. É sobre essa questão que se torna fundamental encontrar fontes seguras de informação.
Não só é incorreto dizer que pessoas com diverticulite não podem comer sementes como o contrário é verdadeiro. Ou seja, as fibras vegetais têm fator protetivo, como veremos abaixo.
Qual a relação entre sementes e diverticulite?
Antes de tudo, para que vocês possam saber melhor sobre os divertículos intestinais, vocês podem se interessar por este conteúdo sobre doença diverticular e este sobre diverticulite.
Agora, se há relação estabelecida entre alimentos de origem vegetal, como as sementes, e divertículos, essa relação é positiva.
Em outras palavras, foi demonstrado que a população vegetariana – ou que tem a sua base alimentar rica em fibras e pobre em alimentos ultraprocessados – tem menor frequência de divertículos e também casos de inflamação deles.
Grão são aliados contra diverticulite
Existe até um estudo que avaliou a ingestão de grãos como milho e pipoca e sua relação com a diverticulite. Não foi observada relação entre eles e, além disso, a ingestão de pipoca foi associada a uma menor incidência de inflamação do que naqueles indivíduos que não comiam o alimento.
Assim, fica a dica: grãos e pipoca estão liberados.
Mas podemos comer sementes indiscriminadamente?
Não é bem assim.
Grãos são sementes comestíveis e compreendem cereais e pseudocereais, como:
Aveia
Trigo
Arroz
Amaranto
Quinoa
Outros
Além disso, temos ainda as castanhas, muito utilizadas em nossa alimentação.
Entretanto, há sementes que têm uma película protetora que não é digerida pelo nosso organismo. Isso faz com que elas saiam nas fezes do mesmo jeito que entraram.
Sendo assim, é preciso estarmos atentos principalmente às sementes de maior diâmetro e que são ingeridas em maior quantidade, como de mamão, melancia, jabuticaba e melão.
Há casos em que elas podem se aglutinar e formar uma “bola”, que pode ficar parada em alguma arte do trajeto intestinal e gerar problemas de obstrução do fluxo fecal.
Qual é a recomendação de consumo de sementes?
De maneira geral, a recomendação é de ingestão de cerca de 6 porções de fibras de origem vegetal, bem como hidratação adequada. Para saber mais sobre dietas ricas em fibras, consulte a seção Saúde e Prevenção do nosso site.
As fibras têm a capacidade de “puxar” líquido para o bolo fecal, o que ajuda na lubrificação e na melhor formação das fezes. Além disto, fibras auxiliam a movimentação intestinal, o que contribui para a diminuição da pressão no cólon, um dos mecanismos de formação dos divertículos.
Dieta adequada ajuda a prevenir diverticulite
A dieta é realmente um fator importante na abordagem da doença diverticular, tanto na prevenção, quanto no acompanhamento do paciente com esse problema.
Além disso, a adoção de hábitos saudáveis de vida ajuda muito. Exemplos são:
Cessação do tabagismo;
Realização de exercícios físicos;
Perda de excesso de peso;
Diminuição da ingestão de carne vermelha.
Ficar atento a medidas fáceis de aplicar no dia a dia pode impactar muito positivamente a qualidade de vida e diminuir riscos de complicações da doença diverticular.
Para que quiser se aprofundar mais, colocamos abaixo as referências de estudos que tratam do assunto.
Estudo sobre consumo de castanhas, milho e pipoca (em inglês);
Análise sobre diverticulite e consumo de grãos (em inglês);
Pesquisa sobre diverticulite e consumo de fibras (em inglês).
Cuidem-se, sempre! Até semana que vem!
Комментарии