As doenças inflamatórias intestinais são doenças benignas crônicas, de etiologia pouco conhecida, que afetam predominantemente o trato gastrointestinal e mediadas pelo sistema imune. Suas variantes mais conhecidas são a doença de Crohn e a retocolite ulcerativa idiopática.
Mas será que a inflamação do intestino tem alguma relação com a saúde mental, ou melhor, com as doenças psiquiátricas?
Aparentemente, sim. Estudos têm concluído que desordens mentais como demência, algumas doenças psiquiátricas e do espectro autista pode ter sua incidência aumentada nas pessoas com doenças inflamatórias intestinais.
Saúde mental e doenças inflamatórias intestinais
Para melhor entendimento, vamos separar didaticamente os problemas acima mencionados e relacioná-los com as doenças inflamatórias intestinais, mesmo sabendo que mais de um deles pode ser identificado no mesmo paciente – e, muitas vezes, seus sintomas serem comuns entre si.
Doenças psiquiátricas e inflamação intestinal
A prevalência de ansiedade e depressão, observada entre pessoas diagnosticadas com doenças inflamatórias intestinais, é muito maior do que a população geral. Isso pode influenciar o eixo intestino-cérebro de maneira negativa.
Em outras palavras, esse desequilíbrio entre a relação sistema nervoso e digestório pode tanto aumentar o processo inflamatório intestinal quanto deteriorar o estado mental do paciente, podendo gerar um círculo vicioso de piora global.
Organismo do paciente com doença inflamatória intestinal
Quanto mais fragilizada for a situação orgânica e/ou mental do indivíduo, mais evidente e intensa parece ser a relação entre as doenças mentais e as doenças inflamatórias, como é o caso de extremos de idade, gravidade da doença e até o isolamento pela pandemia de COVID-19.
O risco de tentativas de autoextermínio (suicídio) também é aumentado nessa população.
Além disso, a relação entre a doença bipolar e esquizofrenia e as doenças inflamatórias intestinais não pode ser bem definida até o momento, pois os estudos apresentaram resultados conflitantes.
Doenças do espectro autista
Estudos realizados com pacientes com doenças do espectro autista apresentam frequência maior de diagnóstico de inflamação intestinal do que os demais sem esse diagnóstico.
Outro dado observado em estudos é que esses pacientes parecem necessitar mais de medicações injetáveis e mais potentes, além de ter maior risco de internações. Esse fato pode estar relacionado a uma maior gravidade da doença nesse grupo ou ao aspecto social de uma maior dificuldade de aderência e aceitação do tratamento oral e domiciliar por eles.
Demência e doença inflamatória intestinal
Tanto a demência decorrente de doenças neurodegenerativas quanto a relacionada com a doença de Parkinson parecem ter um risco aumentado de ocorrência em pessoas com doença de Crohn e retocolite ulcerativa idiopática.
O próprio desenvolvimento da doença de Parkinson parece ser mais frequente em pessoas com doenças inflamatórias intestinais. Sendo assim, alterações comportamentais devem ser observadas e avaliadas por especialistas, assim que identificadas pelos familiares ou médico assistente.
Quais são as causas dessa maior incidência?
Ainda não os mecanismos não sejam completamente conhecidos, parece que a maior incidência de doenças inflamatórias intestinais é decorrente de múltiplos fatores associados:
Aspectos genéticos
Processos de mediadores inflamatórios do organismo
Disbiose da microbiota intestinal
O que pode ser feito?
É preciso esclarecer que nem toda pessoa com doença inflamatória intestinal vai desenvolver problemas psiquiátricos. Não há motivo para alarde, mas ficar atento dentro de casa pode ajudar a pessoa a buscar auxílio médico mais rápido.
Atenção a esses sinais da saúde mental
Comportamentos atípicos que são sinal de alerta:
Retração social
Falas desconexas
Ideações suicidas
Movimentos involuntários
Além disso, pessoas com diagnósticos de doenças psiquiátricas ou neurológicas, com sintomas gastrointestinais, devem ser rastreadas para a possibilidade de doenças inflamatórias intestinais.
Conclusão
Os médicos que se propõe a tratar pacientes com o diagnóstico de doenças inflamatórias intestinais devem estar preparados para identificar precocemente sinais de declínio na saúde mental deles. O diagnóstico precoce, abordagem multidisciplinar e acompanhamento atento podem facilitar o manejo desse problema e, claro, salvar vidas.
Vamos juntos!
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