O diagnóstico de câncer de intestino pode chegar como um choque para a vida do paciente. Mesmo até quem já recebeu alta dos médicos e sabe que está curado fica com a sensação de que não é mais “invencível”. Em alguns casos, a pessoa sente que deve ser acompanhada por profissionais de saúde mental para conseguir retomar a vida em toda a sua plenitude.
E as consequências referentes ao tratamento? Por exemplo, quando uma forma de tratar o câncer é fazendo a ressecção do reto – remoção da parte afetada –, com quais impactos o paciente terá que lidar?
Geralmente, a ressecção de parte do cólon, quando realizada de forma programada e com técnica minimamente invasiva, não trará grandes consequências na qualidade de vida. Entretanto, quando falamos do reto, a história é outra e temos que explicar melhor.
Qual é o papel do reto no intestino?
Antes de falar sobre as consequências da ressecção de reto, vamos entender por que essa parte do corpo é relevante.
Localização: O reto é a última porção do intestino grosso, localizado entre o cólon e o ânus.
Função: A principal função do reto é armazenar as fezes até que seja alcançado o momento da evacuação.
Ao longo de sua extensão, o reto recebe os resíduos não absorvidos pelos processos digestivos e realiza um processo de armazenamento temporário até que os músculos do esfíncter anal permitam a liberação controlada.
Quando o reto se enche, os nervos presentes na região enviam sinais ao cérebro, indicando a necessidade de evacuar.
Nutrição: O reto também desempenha um papel importante na absorção de água e eletrólitos, ajudando a formar as fezes mais sólidas antes da eliminação.
Características do câncer de reto e intestino grosso
Apesar de ser estruturalmente semelhante, o câncer de reto tem comportamento, sinais e sintomas e tratamento diferentes, em comparação com os tumores de intestino grosso (cólon). Isso é, em especial, em relação ao tratamento e suas consequências que vamos focar neste artigo.
Existem algumas características que vão definir a qualidade de vida da pessoa e devem ser levadas em conta quando discutimos a melhor abordagem do câncer colorretal.
1. Distância da borda anal
Quanto maior for a distância do tumor com relação ao canal anal, melhor é a chance de vida normal (ou quase) normal após a cirurgia de intestino.
Por outro lado, as chances de consequências após a cirurgia são maiores quando operamos o reto e emendamos o intestino muito perto do ânus. Algumas são:
Dificuldade de identificação entre gases e fezes
Perda fecal involuntária mínima
Urgência evacuatória
Sensação de que o reto não esvaziou
Além disso, quanto mais baixa for a emenda feita na cirurgia, maior é o risco de complicações e de necessidade de ostomia (bolsa de colostomia), mesmo que provisória.
2. Necessidade rádio e quimioterapia
A rádio e a quimioterapia são artifícios frequentemente empregados no tratamento do câncer de reto. A radioterapia funciona como tratamento local da lesão pela ação destrutiva da radiação sobre as células malignas, sendo potencializada pelo efeito da quimioterapia, que age em todo organismo.
Mas esse tratamento tem efeitos danosos sobre:
As estruturas sadias do corpo
As células de defesa
Os nervos e vasos sanguíneos
Em outras palavras, o tratamento com rádio e quimioterapia mudam o funcionamento do intestino, mesmo que o paciente siga pelo tratamento não operatório mas, principalmente, se ele for submetido a ressecção da lesão.
Aqueles mesmos sintomas relatados no item acima podem ocorrer de maneira mais acentuada e tornam o acompanhamento médico ainda mais importante para orientar a abordagem que pode ajudar a melhorar a qualidade de vida.
3. Invasão da musculatura que controla as fezes
Como abordamos em nosso texto sobre amputação de reto, os pacientes com invasão esfincteriana costumam ter que ser submetidos à ressecção de todo o canal anal.
Isso gera a necessidade de uma ostomia definitiva, mudando completamente a visão da pessoa sobre a vida que ela conhece. Não que a qualidade de vida seja ruim, mas atitudes devem ser tomadas de maneira a se adaptar à nova realidade.
4. Opção por tratamento não operatório
Por fim, o tratamento com preservação de órgão, aquele em que a abordagem da lesão não é cirúrgica, é o que menos gera alterações na vida. Por outro lado, essa forma de tratar está relacionada à aplicação de radioterapia e quimioterapia que, como já sabemos, têm consequências, mesmo que com menos intensidade.
Mas a ressecção de reto é mesmo necessária?
Os cirurgiões não fazem a ressecção de reto à toa. O objetivo a ser atingido com esse tratamento se relaciona a três focos principais:
Preservação da vida
Preservação da função
Preservação da estética
Se esses princípios são seguidos, é muito importante que o paciente saiba que algumas consequências persistem e que a vida pode não ser como antes da ressecção de reto. Então, é fundamental lembrar que, com a doença, existiam riscos grandes e, só com o tratamento é possível dar a volta por cima e seguir em frente.
Lembre-se que se, às vezes, não há solução para o problema, mas é possível amenizar o sofrimento. Se aproxime de quem cuida de você e fale o que sente; é sempre o melhor caminho.
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