O acompanhamento psicológico, ou terapia, pode ajudar a melhorar os sintomas da síndrome do intestino irritável? Essa é uma pergunta que surge entre alguns pacientes que relatam terem sido encaminhados pelo médico a um psicólogo.
“Mas meus sintomas são intestinais. Será que meu problema é coisa da minha cabeça?” – Vamos buscar entender isso neste Janeiro Branco.
Doenças mentais e síndrome do intestino irritável
Janeiro é um mês associado à cor branca para simbolizar a conscientização sobre as doenças mentais. Por isso, resolvi escolher um tema em que a relação intestino e estado mental estão muito bem determinados: a síndrome do intestino irritável.
Já abordamos essa síndrome de maneira aprofundada em várias oportunidades em nosso blog, demonstrando o quanto é uma doença debilitante, com sintomas recorrentes de dor abdominal relacionada com alteração do hábito do intestino.
Sua principal característica é a ausência de doença orgânica, isto é, não é tumor, nem inflamação ou moléstia autoimune. E, assim, muitas vezes os pacientes têm seus sintomas menosprezados e/ou caracterizados como problemas “psicológicos”.
Mas não é bem assim…
Quanto mais estudamos a síndrome do intestino irritável, mais chegamos a conclusão de que é um problema associado a múltiplos fatores, incluindo:
Predisposição pessoal e psicossocial
Uso de medicações
Alterações em neurotransmissores
Em outras palavras, seria muito simplista e errado colocar tudo isso na conta genérica das alterações psicológicas e deixar a pessoa completamente perdida.
Mas qual é a relação com as questões psicológicas?
Existem associações tanto dos pacientes com a síndrome, frequentemente diagnosticados com transtornos do humor, quanto de pacientes com estes problemas manifestam sintomas intestinais.
Mas, se não é simples, vamos organizar nossos pensamentos?
Para facilitar o entendimento, a medicina tenta compartimentalizar o conhecimento, discutindo assuntos de forma separada. Isso ajuda a compreensão, mas às vezes direciona muito o raciocínio e acaba por perder a visão do todo (é o que chamamos de “visão em túnel”).
Terapia contra síndrome do intestino irritável
Já publicamos aqui no blog vários textos sobre as interferências do microbioma, da dieta e dos hábitos de vida sobre o funcionamento intestinal. Mas hoje gostaria de falar um pouco sobre evidências que mostram a importância da psicoterapia na abordagem dos pacientes com síndrome do intestino irritável.
Desde o final dos anos 1970, foi descrito o modelo biopsicossocial que serviu de base para desenvolvimento de terapias psicológicas para as pessoas com sintomas da síndrome e que não respondem adequadamente às diversas medicações empregadas.
Esses modelos de tratamento se baseiam no fato de que pensamentos, emoções e comportamentos afetam de maneira bidirecional a fisiologia intestinal e as manifestações dos sintomas.
A ciência explica a terapia para a síndrome do intestino irritável?
É fácil de entender e até se espera que uma pessoa bem centrada em suas emoções esteja mais preparada para enfrentar os sintomas da síndrome do intestino irritável. Entretanto, não é fácil medir isso.
De toda forma, muitos estudos avaliaram o papel do acompanhamento psicológico na abordagem desses pacientes, e a grande maioria das publicações observou significativa melhora no quadro clínico desses indivíduos.
O que dizem os estudos sobre tratamento psicológico
Nos estudos que fizeram análise sobre tratamento psicológico para pacientes com intestino irritável, foi possível observar:
Melhoria da saúde mental dos indivíduos
Melhor resposta clínica às medicações
Diminuição da intensidade dos sintomas
Melhoria na execução das atividades diárias
Mas qualquer modelo de psicoterapia funciona?
Aparentemente, todos os tratamentos empregados por psicólogos bem treinados têm sido observados como positivos para os pacientes com síndrome do intestino irritável, mas as terapias comportamentais e cognitivas tiveram um resultado mais significativo.
Além disso, o fato de o acompanhamento psicológico ser feito de maneira individual, ou em grupo, ou presencial, ou online, não afetou a melhora dos pacientes.
Conclusões
Precisamos colocar de lado o preconceito com relação à psicoterapia.
Os psicólogos são fundamentais na abordagem das doenças intestinais – isso é muito fácil de se observar nos pacientes diagnosticados com câncer, mas, aparentemente, muitos outros casos vão se beneficiar, como a própria síndrome do intestino irritável, bem como doenças inflamatórias intestinais e endometriose.
Aceitar que precisamos de ajuda não é fácil, portanto, cabe ao médico saber como abordar o assunto com os pacientes. E, para conseguirmos chegar de maneira mais fácil ao resultado esperado no tratamento, as abordagens multidisciplinares geralmente são favoráveis.
Não se esqueçam de abrir suas mentes!
Commentaires