Já tivemos a oportunidade de discutir o aumento da frequência do câncer de intestino em jovens e, principalmente neste ano, pudemos observar um número avassalador de diagnósticos em pessoas com menos de 45 anos.
Mas como podemos identificar e abordar esse público que está teoricamente fora da abrangência dos programas gerais de prevenção?
Gostaria de considerar dois assuntos específicos neste texto:
Quando um paciente com menos de 45 ano deve procurar um coloproctologista?
Após o diagnóstico de câncer nesse paciente, o que é importante saber?
O jovem não é invencível...
Quando eu estava passando por uma fase de bastante apreensão com a minha própria saúde, um grande amigo me disse: “relaxa, você está na garantia ainda”. Hoje eu sei que não é bem assim.
Apesar de a incidência de doenças graves e potencialmente ameaçadoras à vida ser menor nos indivíduos jovens, elas acontecem, sem dúvida. Portanto, negar pequenos indícios de um câncer de intestino é uma prática ruim.
Autoconhecimento é fundamental
Desde o início das nossas discussões aqui no blog e nas redes sociais, sempre tentei levantar a importância do autoconhecimento. Em outras palavras, devem ser sempre considerados sinais de alerta:
Alterações no funcionamento intestinal (por exemplo, pessoas que sempre tiveram prisão de ventre e depois começam com diarreia);
Aparecimento de substâncias anômalas nas fezes (muco, pus ou sangue)
Emagrecimento espontâneo e sem motivos;
Dor abdominal que persiste, principalmente na forma de cólicas intestinais.
Junto a esses fatores, devemos considerar atenção especial às pessoas com doenças inflamatórias intestinais, com diagnóstico de longa data e/ou que não estão bem controlados.
Além disso, o histórico familiar de câncer do trato gastrointestinal, urinário e ginecológico deve ser um ponto de alerta. Esses pacientes devem ser acompanhados desde a juventude, mesmo que exames não tenham que ser feitos.
Abordagem do câncer de intestino em jovens
Quando participei de uma conferência sobre prevenção de câncer de intestino em jovens e nas pessoas em geral, tivemos a oportunidade de conversar sobre esse assunto. O que foi observado é que, cada vez mais, com a melhora da acurácia e segurança dos exames preventivos, médicos têm sido mais liberais para indicar avaliações nos pacientes com menos de 45 anos – e isso tem rendido frutos.
De toda forma, isso não quer dizer que estamos fazendo exames mal indicados, só estamos mais sensíveis às queixas dos pacientes.
Exemplo de câncer de intestino em jovem
Uma paciente de 23 anos foi em nossa clínica com histórico de sangramento anal. Durante o exame físico, identificamos mamilos hemorroidários visíveis, todavia, sem sangramento ativo.
De início, não havia necessidade de realizar uma colonoscopia, mas, se os sintomas persistissem, mesmo com a instituição do tratamento adequado, não deveríamos ficar insistindo nesse diagnóstico. Isto é, deveríamos procurar outras causas, entre elas o câncer.
Se o diagnóstico foi feito, o quê o paciente deve saber?
A primeira consideração que acho pertinente é a sensibilidade. Depois de encontrar vários pacientes nessa situação, saber que, apesar de ninguém estar preparado para ter um câncer, o paciente jovem é especialmente vulnerável.
Em outras palavras, tentar ser franco demais pode ir além do limite do equilíbrio e, facilmente uma doença que já é grave por natureza, pode ser agravada por depressão, ansiedade, distúrbios alimentares e até a morte precoce pelo suicídio.
Tumores podem ser curados
Saibam que os tumores malignos de intestino têm tratamento e, em sua maioria, são curáveis. Realmente, nos mais jovens, observamos um comportamento agressivo de alguns cânceres e também identificamos a identificação mais tardia dessas lesões. Então, quanto antes procurar ajuda, melhor.
Para permitir melhor possibilidade de sucesso no tratamento, o paciente deve identificar o coloproctologista que corresponda às suas expectativas de conhecimento científico e relações pessoais.
Além do mais, é fundamental discutir abertamente sobre a doença, principalmente com os familiares, amigos e companheiros. Isto pode ajudar no fortalecimento do paciente e a lidar melhor com esta situação.
O mundo não está acabando
Sempre consideramos que somos imunes a doenças até nos vermos frente a frente com seu diagnóstico. Mas, no caso do câncer de intestino, temos tratamentos dos mais variados, mesmo nos casos mais avançados e que a qualidade de vida hoje é um objetivo da maioria das abordagens oncológicas.
Se o tratamento for conduzido por uma equipe multidisciplinar competente, é esperado que o doente passe por todo esse processo e por todos os outros desafios de sua vida.
O amadurecimento não vem apenas com o tempo de vida, mas também com cada desafio.
Nunca desistir é sempre uma boa política para todos, cuidadores e cuidados!
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