Muitos de nós sabemos que antibióticos alteram o microbioma intestinal e interferem significativamente na dinâmica evacuatória. É muito comum que um paciente chegue no consultório proctológico se queixando de diarreia após ter tomado uma medicação para sinusite, por exemplo. Mas, quando o quadro persiste depois do término do tratamento, luzes de alerta se acendem.
Hoje, vamos clarear os casos de diarreia associada ao uso de antibióticos.
Conheça o Clostridium, uma ameaça silenciosa
Clostridium é um tipo de bactéria em forma de bacilo (bastão). Elas são imóveis, produzem toxinas e têm como característica muito importante a formação de esporos – essas são formas de sobrevivência de baixo metabolismo, que fazem com que a bactéria resista por muito mais tempo em condições desfavoráveis que outros microrganismos.
Contaminação por Clostridium
A contaminação por essa bactéria é fecal-oral, ou seja, uma pessoa doente, com as mãos contaminadas com esporos de bactérias, entra em contato com uma pessoa saudável que coloca a mão na boca por algum motivo, levando à ingestão dos esporos.
Quando esses esporos chegam no intestino delgado, podem se manter em condição inativa ou se transformar em sua forma vegetativa (ativa) e iniciar a sua multiplicação.
Características do Clostridium
Em situações normais, a reprodução do Clostridium é limitada pelo resto do microbioma intestinal e, com isso, um equilíbrio é estabelecido sem que a pessoa fique doente. O problema ocorre quando há necessidade do uso de antibióticos.
Nesses casos, rapidamente essas bactérias voltam para seu estado de esporos e se protegem contra as medicações, enquanto o restante da flora bacteriana sofre e tem sua população muito diminuída.
Pronto! Assim está preparado o cenário perfeito para o Clostridium difficile, que pode se multiplicar livremente e sem controle, assim a pessoa começa com os sintomas da infecção.
O que a pessoa infectada sente?
Cada pessoa manifesta o problema de maneira diferente, podendo ser apenas desconforto abdominal e fezes mal formadas, até quadros fulminantes com disenterias, sangramentos, choque e até a morte.
Os principais sintomas são:
As pessoas mais vulneráveis têm mais risco de desenvolver a infecção, como é o caso de:
Idosos
Portadores de outras doenças graves, em pós-operatórios de cirurgias do trato gastrointestinal
Pessoas que tomam medicações para diminuir a acidez gástrica
Antibióticos e o crescimento do Clostridium
Infelizmente, a maioria dos antibióticos pode permitir o desenvolvimento desse problema (chamado também de colite), mas os mais comumente associados são:
Clindamicina
Penicilinas
Cefalosporinas
Quinolonas
Um fator que pode estar muito associado à infecção é quando a pessoa usa o antibiótico por período muito curto e depois para, sem completar o tratamento.
Importante sobre o diagnóstico
O diagnóstico desse problema não é o foco deste texto aqui do blog, mas, em linhas gerais, o exame clínico, a dosagem de toxinas nas fezes e até a colonoscopia podem ajudar a indicar os casos de pessoas com infecção ativa e que vão necessitar de tratamento.
O foco agora é tratar!
A primeira medida no tratamento é interromper o uso da medicação que está induzindo à colite.
As opções de antibióticos que efetivamente matam a bactéria – o que é um problema, devido às características de resistência deste microrganismo –, na maioria das vezes, se restringe a:
Metronidazol (antibiótico com efeitos colaterais importantes)
Vancomicina (antibiótico de uso restrito hospitalar e que não é fácil de obter para uso domiciliar).
Outro problema relacionado é que os esporos nem sempre são erradicados. Isto é, indivíduos que trataram e se recuperaram efetivamente da infecção podem ser portadores silenciosos da bactéria por muitos anos, até que haja uma nova condição propícia para ela voltar a crescer – isso acontece em até 25% das pessoas.
Transplante fecal pode ser novo tratamento
Os casos em que as reinfecções são frequentes ou que a pessoa não responde ao tratamento convencional podem ser candidatos ao transplante fecal.
Esse procedimento pode parecer estranho para a maioria das pessoas e consiste na transferência de cerca de 200 mililitros de fezes previamente testado, de um doador saudável, para o cólon do paciente doente, por colonoscopia. Isso pode induzir a uma repopulação do microbioma com microrganismos do bem e melhorar o quadro do doente.
Mas há também medicações novas?
Há esperança de novas medicações também, por exemplo, o oxadiazol é um novo composto em estudos laboratoriais que tem obtido resultados muito melhores que a vancomicina na erradicação do Clostridium difficile, além de ter ação também na destruição dos seus esporos.
Estudos em camundongos obtiveram resultados promissores com diminuição tanto da infecção quanto da possibilidade de reinfecções futuras.
Conclusão
É por isso que não podemos desistir nunca no tratamento de diarreia associada a antibiótico. A medicina não para de avançar, e se manter atento às mudanças pode ajudar muito na recuperação dos pacientes.
Até mais, pessoal!
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